quarta-feira, 20 de março de 2013

Filhos nascidos, tictacs feitos ~ Mariela Cruz


Eu costumava acreditar que Ashtanga Yoga tinha que ser feito de um modo determinado.

É domingo de manhã. Prática recém terminada.
Minha prática não se parece exatamente com a tradicional e quieta prática matinal de Ashtanga: meus filhinhos Gael e Theo estão pulando ao meu redor e dançando ao som de música indiana. No andar de baixo Mathías (o mais novo) está chorando e querendo subir.
Claro, quando estou no Shala (studio) em Mysore a energia lá é tão poderosa que instantaneamente me foco e me conecto profundamente. Mas não tenho essa possibilidade onde eu vivo. Tenho uma família e mesmo assim ainda descubro tantas coisas através dela e do poder do yoga. 
Eu não tenho nenhum professor aqui na Costa Rica, então pratico sozinha. Eles se encontram ao redor do mundo: em Boulder, Colorado; Byron Bay, Australia e Mysore, India. Eu os vejo talvez uma vez ao ano quando tenho sorte - as vezes nem com esta frequência. Eu sinto falta deles. Contanto, sou grata porque tenho sete filhos lindos na minha vida todos os dias. 
Minha história é simples: eu era uma mãe de quatro filhos triste, furiosa e frustrada após um difícil divorcio. Viver não fazia sentido tentando me enquadrar em minha vida de advogada. Eu necessitava de paixão e alegria.

Estava vivendo um pesadelo todos os dias.

Pelo meu karma bom, encontrei um professor que me direcionou à Índia. Conheci o Guruji, e ouvi suas palavras: "pratique e tudo virá..."
No meio da dor e do sofrimento, de algum modo confiei nestas palavras e iniciei minha prática. Praticar sem nenhum professor por perto foi um desafio. De algum modo consegui ir à Mysore e tudo realmente aconteceu.  A felicidade  veio - felicidade que eu não sabia existir.
Yoga é a prática do ofertar. O Ashtanga tem uma beleza além das palavras, um profundo silêncio que  me centra pro meu interior e me faz realizar meu caminho na vida - uma vida que inclui um maravilhoso marido, crianças, cachorros e alunos; uma vida que não se parecia com o meu passado. Tantas alegrias.
A prática pode facilmente se tornar uma alimentadora do ego - uma performance quando nós esquecemos o contexto. Meu professor, Sharath, me recorda da beleza que é ser pai. Estávamos praticando na Índia e seu menino sempre aparecia no shala antes de ir para a aula e gritava "Tchau!" com tanto amor. Sharath saia da sala e acenava de volta. Ele me inspira.

A prática pode se tornar um escape e negação da nossa imediata realidade. 

 Meus filhos me mantêm no chão. Sempre tem algo acontecendo. Risos, lágrimas, corações partidos, aventuras, intensidade e amor - meu Deus, tanto amor!

Como mãe, esposa e mulher, sempre me questionava como poderia oferecer algo de bom naquele dia. Como poderia compartilhar todas as bençãos que tenho recebido desta pratica e dos meus professores?
Percebi que lealdade, fé, desejo intenso por verdade e tranformação, humildade e felicidade enchiam minha vida neste presente momento. As imagens impressas em meu coração são de uma amável professora que me recebeu no seu shala com uma barriga de oito meses em Bolder se preocupando com o lugar onde eu durmia e o tempo frio. Também uma que me mostrou o poder da maternidade, viajando ao redor do mundo com sua filha e filho, e muitas outras pessoas maravilhosas que mantêm próximos de seus corações as pessoas que amam.
E me pergunto se perder meus bandhas após sete gestações e se espremer para ter de volta aqueles tic-tacs é o meu caminho hoje, ou talvez apenas ir ao andar de baixo para terminar os detalhes para a festa de aniversário de quatro anos do meu filho. Me pergunto se não é a mesma coisas - o mesmo amor, o mesmo prana permeando a tudo e a todos. E abro meu coração enquanto respiro e anseio pelo toque de meu professor depois dos backbends; sinto tanta sua falta.

Um de meus maiores mestres, um músico fantástico, uma vez me disse que a maior benção de todas é saber exatamente como poder servir ao mundo.

Eu sirvo ao mundo estando presente e humilde no meu mat. Eu sirvo para manter meus filhinhos - alguns deles homem crescidos - perto de meu coração.
Eu sirvo indo à Índia e nutrindo minha alma com as cores e paradoxos deste país maravilhoso. Eu sirvo inspirando os utros a acharem seus sonhos e batalhar duro por eles.
Eu sirvo mantendo a memória de meu mestre viva - ele que me inspirou a ir além do meu ego e a desapegar dos meus medos, a cuidar de quem eu amo e a ser uma mãe feliz. 

Eu te amo, Guruji. Onde quer que esteja.


Fonte: http://www.elephantjournal.com/2013/02/babies-born-tic-tocs-gone-mariela-cruz/
Traduzido por: Gustavo Shintate 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Notas perdidas (1)



Revirando materiais achei a seguinte confissão numa agenda minha:

"I wanna be a musician to be able to do something for the world around me. Mentally and Spiritually.

Music is the sacred between the universe and the beings.
Yoga is the sacred within yourself that reveals to be the universe itself.

Music and yoga are the awakening of that conection."



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sadhana

Para ser um pianista, para criar música no piano primeiro é preciso ir até ele. Ter o piano não é o bastante. Você tem que tocar as teclas, fazer contato. Qualquer um pode tocar: uma tecla, depois outra. De notas isoladas à escalas. De escalas à melodia. Com prática e esforço uma graciosa fluidez se manifesta e com ela a magia da música. Em algum momento deste processo seria de extrema ajuda haver um entendimento em música escrita. Mas este entendimento em si não irá produzir o mesmo efeito. É o som que possui a habilidade de apaziguar a alma. E é assim também com o yoga. Você pode ler interminavelmente e apesar das palavras serem reveladoras, sem a prática será a revelação do autor, e não a sua. Faça sua própria música, tenha seus próprios insights através da prática. Assim toda a teoria portará um valioso significado a você.  

Dena Kingsley  em "Guruji,  um retrato de  Sri K. Pattabhi Jois"

Ar


A respiração é a nossa ferramenta mais poderosa. Sem ela a vida tem seu fim, e também com ela a vida se dá início. A qualidade de vida se espelhará na respiração a medida em que a cultivamos desenvolvendo-a, enfatizando-a, fortalecendo-a, prolongando-a. Na prática ela é o combustível  o foco, o mantra, a força, a conexão com o espírito e é sua melhor amiga.

Dena Kingsley em  "Guruji, um retrato de Sri K. Pattabhi Jois"

terça-feira, 15 de março de 2011

Pra quem tem duvidas sobre a oceanografia

De acordo com o site da Associação Brasileira de Oceanografia (Aoceano), “a Oceanografia é a ciência que se dedica ao estudo dos oceanos e zonas costeiras sob todos os aspectos. É uma ciência multi, inter e transdisciplinar, que requer conhecimento geral e integrado de matérias aparentemente distintas, como Biologia, Física, Geologia, Matemática e Química”.
O professor Moyses Tessler, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), propõe um exemplo para ilustrar a abrangência da Oceanografia: “Suponha um acidente numa plataforma de petróleo. Um biólogo marinho chega com o conhecimento sobre as espécies afetadas; um químico, sobre a composição do petróleo derramado; um geólogo, sobre as características do solo oceânico; já um físico pode contribuir com os cálculos sobre o movimento e a temperatura das correntes marítimas. Mas é o oceanógrafo quem vai amarrar todas as partes num quadro único, ele estuda a interface entre todos esses processos”.
Assim como na parábola dos cegos que apalpam diferentes partes de um animal sem entrar em acordo sobre a sua natureza, cabe ao oceanógrafo “enxergar o elefante”. O desafio, reconhece Tessler, é que ainda há muito o que ser descoberto sobre os elefantes chamados Oceanos.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Shanti

Já cheguei a dizer "como é bom voltar a falar consigo mesmo" mas mesmo assim, mesmo com essa segurança de escrever novamente, parece que ainda havia um bloqueio, como se estivesse voltando aos poucos de uma letargia que me invadiu ano passado, ou até antes disso.
Devo isso ao Ashtanga que com seu esforço físico e mental, me trouxe de volta um silêncio mental que não era perturbador que nem antes, não era uma paz simplesmente por estar tudo em paz... O yoga trouxe um silêncio conquistado, não adquirido.
Essa projeção um tanto forçada pro futuro com a passagem para o terceiro ano trazia uma série de incertezas que realmente incomodavam e me impediam de ir para frente, mas agora consegui me centrar de volta e "vamo-que-vamo".


Om Lokah Samastah Sukhino Bhavantu. que todos os seres vivos sejam prosperos e felizes

Sei que este nao sera o maior post do mundo

mas PORRA, COMO DORMIR BEM FAZ BEM :D

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Inner Voice

Can anybody give me words to describe how good it is to be able to dialogue with yourself again?

:D

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Da soma pela a subtracao


Durante o ano o meu corpo é movido por um software que só conhece a lógica da “soma”. Somo o tempo todo. Ajunto coisas. Não jogo nada fora. Não me esqueço. A memória é também um jeito de somar.

São duas as razões que me levam a ajuntar. A primeira é o amor. O amor não pode ficar sem resposta. Mas a vida tem urgências maiores que as do amor. A segunda é a razão da utilidade: é possível que o objeto que tenho nas mãos de utilidade duvidosa, possa vir a ter algum uso no futuro. 
...Mas como eu dizia, agora quando o ano terminou, muda o meu software. O programa da “soma” é retirado e, no seu lugar, começa a funcionar o programa da “subtração”. O programa da ‘soma’ é feitiço danado, quanto mais ajunta, mais pesado fica, a gente vai perdendo a leveza, o andar fica difícil, é gordura e músculo demais, o corpo afunda por o peso ser em demasia.
Já o programa da ‘subtração’ é o contrário: ele quebra o feitiço da soma, a gente emagrece, fica leve, as escamas caem, o coscorão se descola, o corpo perde o músculo e ganha asas. A ‘soma’ nos faz envelhecer. A ‘subtração’ nos faz voltar a ser crianças. 
O diabo soma: “tem uma contabilidade implacável que não esquece. Deus subtrai. Não tem contabilidade. Todo perdão é esquecimento. Mas de repente, foi-se a lógica da soma e a lógica da subtração tomou o seu lugar. Álvaro de Campos concorda: 
“Ah! A frescura na face de não cumprir um dever!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora...
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação...”
Não sou senhor do tempo. Preciso de mais tempo do que tenho. Nem mesmo o amor pode com ele. É dessa impotência do amor diante do tempo que nasce a arte.
“Tempus fugit” – essa frase: o tempo foge. Diz um salmo bíblico: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios”. A sabedoria se inicia quando aprendemos a contar o tempo. Quem conta o tempo sabe que o tempo não soma, ele só subtrai. 
Álvaro de Campos, eufórico pela liberdade de não cumprir um dever, termina dizendo: “Estou nu e mergulho na água da minha imaginação”.
A água é o grande poder da subtração. Por onde passa, limpa. As águas tem o poder de subtrair do corpo e da alma as coisas pesadas que a passagem do tempo foi neles sedimentado. As águas nos reconduzem ao esquecimento. Elas lavam o corpo envelhecendo, e ele volta a ser criança. (Rubem Alves)