Eu costumava acreditar que Ashtanga Yoga tinha que ser feito de um modo determinado.
É domingo de manhã. Prática recém terminada.
Minha prática não se parece exatamente com a tradicional e quieta prática matinal de Ashtanga: meus filhinhos Gael e Theo estão pulando ao meu redor e dançando ao som de música indiana. No andar de baixo Mathías (o mais novo) está chorando e querendo subir.
Claro, quando estou no Shala (studio) em Mysore a energia lá é tão poderosa que instantaneamente me foco e me conecto profundamente. Mas não tenho essa possibilidade onde eu vivo. Tenho uma família e mesmo assim ainda descubro tantas coisas através dela e do poder do yoga.
Eu não tenho nenhum professor aqui na Costa Rica, então pratico sozinha. Eles se encontram ao redor do mundo: em Boulder, Colorado; Byron Bay, Australia e Mysore, India. Eu os vejo talvez uma vez ao ano quando tenho sorte - as vezes nem com esta frequência. Eu sinto falta deles. Contanto, sou grata porque tenho sete filhos lindos na minha vida todos os dias.
Minha história é simples: eu era uma mãe de quatro filhos triste, furiosa e frustrada após um difícil divorcio. Viver não fazia sentido tentando me enquadrar em minha vida de advogada. Eu necessitava de paixão e alegria.
Estava vivendo um pesadelo todos os dias.
Pelo meu karma bom, encontrei um professor que me direcionou à Índia. Conheci o Guruji, e ouvi suas palavras: "pratique e tudo virá..."
No meio da dor e do sofrimento, de algum modo confiei nestas palavras e iniciei minha prática. Praticar sem nenhum professor por perto foi um desafio. De algum modo consegui ir à Mysore e tudo realmente aconteceu. A felicidade veio - felicidade que eu não sabia existir.
Yoga é a prática do ofertar. O Ashtanga tem uma beleza além das palavras, um profundo silêncio que me centra pro meu interior e me faz realizar meu caminho na vida - uma vida que inclui um maravilhoso marido, crianças, cachorros e alunos; uma vida que não se parecia com o meu passado. Tantas alegrias.
A prática pode facilmente se tornar uma alimentadora do ego - uma performance quando nós esquecemos o contexto. Meu professor, Sharath, me recorda da beleza que é ser pai. Estávamos praticando na Índia e seu menino sempre aparecia no shala antes de ir para a aula e gritava "Tchau!" com tanto amor. Sharath saia da sala e acenava de volta. Ele me inspira.
A prática pode se tornar um escape e negação da nossa imediata realidade.
Meus filhos me mantêm no chão. Sempre tem algo acontecendo. Risos, lágrimas, corações partidos, aventuras, intensidade e amor - meu Deus, tanto amor!
Como mãe, esposa e mulher, sempre me questionava como poderia oferecer algo de bom naquele dia. Como poderia compartilhar todas as bençãos que tenho recebido desta pratica e dos meus professores?
Percebi que lealdade, fé, desejo intenso por verdade e tranformação, humildade e felicidade enchiam minha vida neste presente momento. As imagens impressas em meu coração são de uma amável professora que me recebeu no seu shala com uma barriga de oito meses em Bolder se preocupando com o lugar onde eu durmia e o tempo frio. Também uma que me mostrou o poder da maternidade, viajando ao redor do mundo com sua filha e filho, e muitas outras pessoas maravilhosas que mantêm próximos de seus corações as pessoas que amam.
E me pergunto se perder meus bandhas após sete gestações e se espremer para ter de volta aqueles tic-tacs é o meu caminho hoje, ou talvez apenas ir ao andar de baixo para terminar os detalhes para a festa de aniversário de quatro anos do meu filho. Me pergunto se não é a mesma coisas - o mesmo amor, o mesmo prana permeando a tudo e a todos. E abro meu coração enquanto respiro e anseio pelo toque de meu professor depois dos backbends; sinto tanta sua falta.
Um de meus maiores mestres, um músico fantástico, uma vez me disse que a maior benção de todas é saber exatamente como poder servir ao mundo.
Eu sirvo ao mundo estando presente e humilde no meu mat. Eu sirvo para manter meus filhinhos - alguns deles homem crescidos - perto de meu coração.
Eu sirvo indo à Índia e nutrindo minha alma com as cores e paradoxos deste país maravilhoso. Eu sirvo inspirando os utros a acharem seus sonhos e batalhar duro por eles.
Eu sirvo mantendo a memória de meu mestre viva - ele que me inspirou a ir além do meu ego e a desapegar dos meus medos, a cuidar de quem eu amo e a ser uma mãe feliz.
Eu te amo, Guruji. Onde quer que esteja.
Fonte: http://www.elephantjournal.com/2013/02/babies-born-tic-tocs-gone-mariela-cruz/
Traduzido por: Gustavo Shintate